Imagine-se no seu leito de morte; em que áreas da vida você desejaria ter investido mais? Muita gente só reflete sobre isso quando não dá mais para mudar. Seja diferente! Separe um tempo hoje para refletir sobre suas prioridades.
O que é prioridade?
Uma prioridade é algo que consideramos importante em nossa vida. No início, esta palavra era usada no singular, designando aquilo que tem o primeiro lugar. Há algumas décadas o termo também é usado no plural, para decidir uma lista em ordem decrescente daquilo que é essencial em nosso viver. Isso significa definir qual a importância que cada área tem em relação às outras. Que áreas competem por nossa atenção? Espiritualidade, casamento, filhos, familiares, amigos, igreja, trabalho, saúde, descanso, formação educacional, cultura e lazer. Talvez você lembre de outras.
Nem sempre conseguimos manter estas áreas em equilíbrio. Ninguém consegue dividir seu tempo de modo a atender todas estas áreas satisfatoriamente. Ao listarmos nossas prioridades, portanto, definimos a relevância que damos a cada área de nossa vida. Por que precisamos fazer isso? Porque constantemente surgem momentos em que devemos escolher entre pessoas, valores e situações. São essas escolhas que revelam nossas prioridades (ainda que inconscientes); são nossas prioridades que determinam essas escolhas.
Um casamento não se desarranja da noite para o dia. Geralmente isso acontece ao longo de anos, muitas vezes porque o casal não deu a devida atenção às prioridades bíblicas e priorizou outros sonhos vendidos pela sociedade atual. As prioridades erradas consomem o casamento e destroem a família. Por isso, dedique sua atenção ao que a Bíblia ensina.
O que a Bíblia diz sobre prioridades?
Não há um texto bíblico único que faça uma lista das prioridades que Deus projetou para o ser humano. Contudo, podemos deduzir as corretas prioridades a partir de vários textos.
Certamente Deus está em primeiro lugar na lista, pois devemos amá-lo acima de todas as coisas (Êx 20.3). Jesus ensina que “o grande e primeiro mandamento” (Mt 22.37-38) é: “amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6.5). A própria essência da vida está em nosso relacionamento com o Senhor. Jesus definiu a vida eterna assim: “que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Jesus veio “para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10) e só ele tem “as palavras da vida eterna” (Jo 6.68).
Obviamente, este compromisso fundamental afeta tudo o mais na vida. Mas é preciso fazer uma ressalva. Jesus exorta a buscarmos o reino de Deus (Mt 6.33). Algumas pessoas se confundem, achando que isso significa atender todos os trabalhos da igreja. Esse não é o ponto aqui; priorizar o reino de Deus implica colocar o Senhor como Rei em nossa vida e aplicar suas regras a todas as esferas da existência. É fazer tudo em todo tempo para glorificar a Deus (1Co 10.31).
As demais prioridades se resumem no segundo grande mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39). Observe como o mundo bíblico sempre se divide em duas esferas: Deus e o restante. O relacionamento com Deus não é apenas uma categoria (“espiritualidade”) dentre tantas outras atividades. O Senhor é a base da nossa existência; tudo o mais se encaixa na segunda categoria.
Mas quem é esse próximo? Às vezes o idealizamos identificando-o com os estranhos no caminho (como o bom samaritano de Lc 10.30-37). A verdade é bem mais simples: próximo é aquele que está ao nosso lado, com quem convivemos. Quanto mais convívio, mais próximo, por isso deve receber mais amor. Não se trata aqui de paixão ou de emoções, mas de expressão concreta de serviço ao outro, colocando-o acima de nossos interesses, devoção que investe tempo, dinheiro e esforços.
Contudo, desempenhamos muitos papéis na sociedade. Convivemos com muitos próximos: cônjuge, filhos, familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, e várias outros que passam por nós a cada dia. Como definir quem tem prioridade? Como escolher a quem dar atenção em nosso escasso tempo?
Quem deve ter prioridade?
Para apresentar a lista de prioridades bíblicas, consideremos que sua situação é a de um adulto, casado, com filhos, familiares e amigos, com emprego e participante da igreja. Certamente serão necessários ajustes para outras situações; todavia, precisamos aprender essas prioridades para as viver e ensinar a outros.
Os primeiros capítulos da Bíblia revelam o propósito divino de nos colocar em relacionamento conjugal. A primeira ordem dada ao ser humano é a da união matrimonial e da geração da família: “Sede fecundos, multiplicai-vos” (Gn 1.28). O Senhor projetou o casal para ser “uma só carne” (Gn 2.24); o que pode ser mais próximo do que isso? Dessa forma, a pessoa mais próxima de nós e que deve ser mais amada é o nosso cônjuge. A partir desse princípio, Paulo ordena aos maridos que amem “sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama” (Ef 5.28-33). Ele confirma a ideia ao declarar com naturalidade que a pessoa casada cuida “de como agradar à esposa” e “ao marido” (1Co 7.33-34; cf. v. 3). Esse princípio é tão importante e antigo que o recém-casado não ia à guerra no primeiro ano do matrimônio, pois “promoverá felicidade à mulher que tomou” (Dt 24.5).
Portanto, seu cônjuge é a pessoa mais valiosa para você na terra; somente Deus é mais importante. Deus é a prioridade nº 1; seu cônjuge, a nº 2.
Depois do cônjuge, o relacionamento mais importante é com os filhos e, depois, com a família estendida. Contra o atual “filhocentrismo”, enfatizamos que o relacionamento do casal é sempre mais importante do que a dedicação aos filhos. O matrimônio é uma relação vitalícia e íntima; já os filhos não ficarão em casa para sempre, pois devem amadurecer e desenvolver seus próprios relacionamentos. O melhor presente que os pais podem dar aos filhos é desenvolver um relacionamento conjugal sadio, forte e transbordante de amor. Isso começa na escolha diária de priorizar o cônjuge acima dos filhos. Em resumo, os filhos (até casarem) devem ter prioridade sobre outras áreas da vida, como amigos, trabalho e lazer. Somente Deus e o cônjuge são mais importantes que os filhos.
Do mesmo modo, a Bíblia recomenda a dedicação dos filhos adultos aos pais que não mais sobrevivem independentemente (1Tm 5.4,16). Nossa obrigação não termina na família imediata (cônjuge e filhos solteiros), mas se estende à família ampliada (filhos casados, pais, tios, primos, avós). “Se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” (1Tm 5.8). Jesus repreende os fariseus pela desculpa religiosa para não sustentarem seus pais (Mc 7.11-13). Quanto devemos priorizar a família ampliada? Essa é uma questão difícil, a ser decidida caso a caso.
A família certamente é um projeto de Deus! Ela deve ter prioridade. O mundo tenta inverter isso constantemente, afirmando que é mais importante que sejamos bem-sucedidos em nossa carreira profissional. Então, qual é o lugar do trabalho em nossa vida? Trabalhar é a segunda ordem de Deus: “enchei a terra e sujeitai-a, dominai…” (Gn 1.28). Deus colocou o homem sobre a terra como administrador, para desenvolver as potencialidades da criação e levá-la a glorificar o Criador. O trabalho é o exercício (não necessariamente remunerado) da vocação dada por Deus; é para o que Deus nos capacitou. Somos livres para escolher em que área trabalharemos, pois toda vocação é digna! Assim, por um lado, todos precisam trabalhar para cumprir sua parte nessa missão. “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3.10). Por outro lado, a sociedade atual coloca demasiada pressão no sucesso profissional, relegando a família (e Deus) ao escanteio. O trabalho é importante para honrarmos a Deus, mas não pode ter mais prioridade do que o Senhor ou a família.
E as outras áreas?
Paulo confirma essa ordem de prioridades em Efésios 5.15–6.10. Ao discorrer sobre aproveitarmos melhor o tempo, Paulo segue as prioridades bíblicas:
1ª) Obedecer à vontade do Senhor e encher-se do Espírito (5.17-21);
2ª) Desenvolver amor e submissão no relacionamento conjugal (5.22-33);
3ª) Desenvolver honra e disciplina nos filhos, sem irritá-los (6.1-4);
4ª) Desenvolver obediência e boa vontade no trabalho (6.5-9).
5ª) As demais áreas da vida (incluindo a igreja) são resumidas em “Quanto ao mais” (6.10).
Assim, é errado priorizar as atividades da igreja em detrimento do trabalho (o exercício da vocação que Deus lhe deu) ou família. A família e o trabalho são as primeiras e principais esferas de nossa adoração e serviço a Deus. De fato, se a pessoa não cuida bem da família, não é qualificada para o trabalho na igreja (1Tm 3.4-5,12). Contudo, dentro desse pacote que inclui os demais relacionamentos do cotidiano, Paulo ordena que priorizemos a família da fé (Gl 6.10). Em resumo, o reino de Deus deve ser prioridade em nossa vida (Mt 6.33), mas sua principal expressão está em nossa vida individual com Deus, em nosso casamento e vida familiar e no exercício de nossa vocação profissional. Somente depois devemos nos ocupar da expansão do reino por meio das atividades da igreja.
Nesse sentido, entra aqui a prioridade do relacionamento com a sociedade (fora do escopo da família e do trabalho). Precisamos nos relacionar com amigos e pessoas fora da igreja para anunciarmos continuamente o amor de Deus. Afinal, Jesus ordenou: “assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16). Além disso, nossa ética e compromisso com a justiça social de Deus não se limita à família da fé: “façamos o bem a todos” (Gl 6.10).
Alguns estudiosos cristãos listam por último a realização e o bem-estar pessoal. Certamente, o Senhor deseja que alcancemos a verdadeira felicidade, e a obteremos se o obedecermos. Por isso, de fato, essa prioridade permeia todas as demais. Especificamente, a Bíblia nos exorta ao lazer e à alegria com amigos e familiares, como fruto merecido do trabalho (Ec 2.24-25), e à moderação no trabalho e ao desapego às riquezas. O descanso é essencial para o correto viver na presença de Deus, pois ele mesmo determinou que trabalhemos apenas seis dias (Êx 20.9) para descansarmos no sétimo.
Uma vez determinadas as prioridades, é hora de verificarmos se elas estão se concretizando em nossa vida. A maneira mais prática é examinar como investimos nosso tempo e dinheiro. Essas são duas áreas que revelam facilmente quais são as nossas prioridades, especialmente após você eliminar os compromissos fixos (tempo no emprego e contas fixas). Se seguirmos as prioridades bíblicas, nossa vida entrará em harmonia e conseguiremos dizer “não” às atividades extras que surgem para nos desviar do prioritário, mesmo quando parecem obras piedosas, urgentes ou necessárias (que às vezes precisam ser deixadas para outros realizarem). Nosso envolvimento em cada atividade da vida precisa seguir as prioridades do Senhor a quem servimos.
Finalmente, devemos recordar que essa relação de prioridades não visa gerar culpa em você e nem julgamento sobre os outros; antes, ela indica princípios divinos para que alcancemos a verdadeira felicidade.
3 replies to "Prioridades, o que é mais importante na minha vida?"
Excelente exposição, meu irmão. Embora não seja tão fácil colocar isso tudo em prática, com certeza é o caminho que devemos seguir, se quisermos ser felizes e agradar a Deus.
[…] o mundo nem nada dele levaremos (1Tm 6.7). Somos apenas mordomos de Deus e, no exercício dessa mordomia, devemos ser achados fiéis (1Co 4.2) O dizimo, mais do que um valor, é um emblema. É um sinal de […]
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